Olá pessoal,
Eu acompanhei um pouco no trabalho essa tragédia em uma escola em Realengo. Li uma coluna de uma jornalista na qual gostei muito e a reproduzirei aqui no meu blog. Ele fala sobre o sensacionalismo, o opotunismo da mídia em uma quinta tão triste para os cariocas e brasileiros. Um crime bárbaro, aliás o que houve foi um massacre. Inocentes crianças perderam suas vidas. Eu não tenho muito o que dizer sobre isso. O que gostaria de ressaltar é o que abomino hoje em dia: a corbetura midiática. A midia vive do sensacionalismo, do exagero.Quando há um feito louvável a ser destacado, pouco ou nada se fala. Mas, quando acontece algo como o ocorrido hoje no Rio, se ouve uma enxurrada de besteiras e especulações somente para angariar ibope.
É triste e lamentável. Abaixo leiam o texto ao qual estou plenamente de acordo. Admiro a maneira de escrever de Walter Hupsel, ele nos mostra o que pensa de forma concisa e inteligente.
Por Walter Hupsel
Desculpem-me, esta é uma coluna escrita no calor do momento, da tragédia acontecida numa escola do Rio de Janeiro onde crianças foram covarde e brutalmente assassinadas. Não há palavras para descrever tamanho ato bárbaro, mas há de se buscar explicações, tanto para o assassinato em massa (sim, é necessário entendê-lo, mais que chamar o criminoso de psicopata) quanto para como ele conseguiu armas, munições e treinamento.
Mas não é sobre isso que quero escrever, e nem tenho conhecimento
sobre o tema que me permita colaborar, de alguma maneira, com o debate.
Meu foco é outro: a cobertura da imprensa.
Assim que soube do massacre pelo Twitter, corri pra TV para ter mais e
melhores informações. Com muito bom grado obtive quantidade e não
qualidade. Tive mais informações, mais informações inúteis e
sensacionalistas. E olhem que faço parte de uma pequena parcela da
população assinante de TV a cabo.
Não liguei a TV nos programas sanguinolentos do fim de tarde, nos
quais os apresentadores gritam, gritam e gritam, mostrando imagens
bizarras e pedem por mais sangue. Não, eu estava sintonizado num canal
exclusivamente de notícias, em que elas seriam tratadas – acreditava eu –
de maneira mais fria e analítica.
Ledo engano. Foi uma chuva de despautérios construídos imediatamente
em cima da notícia, com a devida carga de sensacionalismo, desrespeito e
oportunismo que, claro, muito mais reforça os estereótipos do que
explicam a tragédia.
Jornalistas e “especialistas” buscavam qualquer explicação, qualquer
uma, que pudesse explicar fato. Tentaram colar o rótulo de “ateu”, como
se isso fosse mesmo premissa para ser um assassino. Um crime dessa
magnitude só poderia ser praticado por alguém descrente, portanto, um
monstro, não é mesmo? (Profundo desconhecedor da história, Datena disse
hoje que “quem acredita em Deus não faz uma dessas.”)
Depois, mobilizando preconceitos, especulou-se que o criminoso fosse
muçulmano. Quem mais além de um ateu poderia cometer tamanha
barbaridade? Um muçulmano, claro! Afinal de contas, reza o preconceito,
esse povo esquisito só pratica maldades no mundo. Obviamente que a isso
segue a idéia de ser o massacre um “ato terrorista”.
“Ele era esquisito e estava com a barba muito grande”, falou a irmã
de criação dele. Um jornalista conduz a entrevista: “Mas ele falou
alguma coisa de religião… de muçulmano?”. A irmã meio que induzida,
repete a idéia de ele era estranho e que falava estas besteiras de
muçulmano. (Ouçam aqui).
Depois, especulou-se que era HIV positivo. Ateu, mulçumano e
soropositivo. Independente de em qual dessas categorias o assassino se
encaixasse, qualquer uma delas, a julgar pelo teor da cobertura, seria
explicação necessária e suficiente para ele ter cometido o massacre. O
ideal mesmo seria que ele fosse as três, simultaneamente.
Um especialista forense foi mais além e detectou, pelas roupas que o
assassino vestia (coturno e calça verde) que deveria se tratar de um
membro de organizações fundamentalistas… muçulmanas!!! Recrutado por
estes grupos, ele foi escolhido pra ação porque tinha HIV e precisava se
“limpar” no tal “ato terrorista”.
Pronto, simples assim. Em duas ou três horas de cobertura midiática,
cercada de “especialistas”, o retrato feito. Encarnação da maldade. Mas
se a realidade não se encaixa nestas teorias… quem se importa?
A tese está feita e divulgada a milhões de pessoas, estimulando
preconceitos, espalhando desinformação e ódio. Mas, novamente, quem se
importa?
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